quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Na Barra do Una não existem táxis!

Eu já vi muita coisa. Posso dizer que conheço alguns países e já constatei costumes e manias bem estranhas. O Brasil não podia ser uma excepção e realmente aqui há gente para tudo.

Neste momento encontro-me na Barra do Una, um lugarzinho super simpático no Litoral Norte de São Paulo. De favor em casa de um amigo, sem carro e a uma distância substancial do local de trabalho, o autocarro - ônibus - é o nosso melhor (ou pior) amigo. A casa está situada num lugar chamado Sertão do Cacau e o caminho desde a estrada onde é a paragem até lá é de terra batida (cerca de 1.5km). Escusado será dizer que eu, na minha versão hippie, faço este caminho quase todos os dias a pé às tantas da noite, pois não há autocarro a essa hora nem as conhecidas boleias diurnas.

As boleias, ou melhor, as caronas... Uma coisa tão comum também em Portugal, mas com uma pequena diferença. Aqui não há táxis, ou pelo menos eu nunca os vi. Aqui há gente com o seu carrito próprio que faz vezes sem conta a estrada que liga as praias, parando nos "pontos de ônibus" para perguntar às pessoas se vão para Juquey, Barra do Sahy, Bertioga, Barra do Una ou outro vilarejo naquele sentido. 

A primeira vez que vi tal abordagem pensei "bem, estes brasileiros são de facto um povo mesmo simpático". É verdade, são muito simpáticos, mas também são danados para o negócio. Estes actos não são pura simpatia mas sim um trabalho desta gente (ou biscate, sei lá) que consiste em apanhar as pessoas que esperam desesperadamente pelo autocarro e levá-las até à paragem que desejam, cobrando-lhes um valor um pouco mais alto, compensado pela comodidade e rapidez de um carro de 5 lugares.

Claro que eu acabei por aderir à moda e, para além das boleias desde a casa no Sertão até à estrada (estas apenas por simpatia, gratuitas), já paguei uns trocos para me deixarem na Barra do Una sem stresses. A experiência chega a ser normal como se de um táxi se tratasse. A única diferença é que eles vão parando em TODAS as paragens para incluir mais uma pessoa no trajecto e, claro, fazer mais um dinheirinho.

Mas a viagem de hoje foi especialmente engraçada. Chove muitíssimo e em casa do A. não havia guarda-chuvas. A coisa mais semelhante, e que acabou por ser a nossa salvação, foi um guada-sol do São Paulo Futebol Clube. Uma coisa bem cómica para quem é corintiano fanático! Fomos até à paragem de autocarro existente no Sertão, na expectativa de que o maldito transporte público passasse em breve. Antes que isso acontecesse, apareceu um camião que nos deu boleia até à estrada para esperarmos o autocarro em direcção à Barra do Una. Eis que aparece um carro que, como é habitual, abranda e pergunta se vamos para Juquey. "Não, vamos para a Barra do Una" (que é um pouco mais à frente), respondemos. Quando se preparavam para seguir dissemos "E se dermos mais um dinheirinho não nos levam até lá?". Dito e feito. Entrámos no carro do casal mais cómico que encontrei desde que aqui cheguei. Uma gordinha loirinha de voz simpática e um magrela moreno que conduzia o carro. Um negócio a dois, portanto!

O carro era dela, mas ele conduzia. Ela fazia o negócio, mas ele metia água na fervura. Uma conversa que parecia sair de uma novela (brasileira), que deu para perceber que eram de S.Paulo mas vendiam bijutaria e roupas no Litoral e brincavam aos táxis para juntar mais uns reais. Na casa dos 40, pelos vistos eram apenas namorados (há 20 anos), mas ela parecia depender ainda dos pais. Estava em casa da mãe e dizia não poder depender mais do pai...Um discurso tão estranho de um casal maduro que mais parecia uma dupla mafiosa.
Eu não consegui controlar as gargalhadas na maior parte do tempo e lamentei não ter uma câmara de filmar para fazer uma reportagem bem ao estilo "Fantástico".

imagem exemplo da estrada no Litoral Norte de S.Paulo

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